Dra. Liliane fala sobre differenças em práticas de análise do comportamento
Esta semana me deparei com uma Ted Talk muito interessante onde o palestrante, Dr. Daniel Amen, descreveu a importância da imagem cerebral no diagnóstico psiquiátrico. Eu estava me divertindo bastante até que ele disse que usar terapia comportamental para um paciente com comportamento violento "seria cruel". Eu trabalho com terapia comportamental para pessoas com comportamento agressivo violento há mais de quinze anos e acredito que meu trabalho tenha ajudado a melhorar a qualidade de vida de muitos. Fiquei chocada! Por que ele chamaria meu trabalho de cruel? Se você não é um analista do comportamento, sua opinião sobre análise do comportamento pode ser influenciada por filmes como Laranja Mecânica, e explosões da mídia social sobre terapia de choque e coisas assim. Eu entendo como alguém pensaria que isso é cruel, mas deixa eu te contar uma coisa: existem 50 tons de analistas do comportamento.
Em essência, a análise aplicada do comportamento (ABA) é uma terapia centrada na pessoa, baseada em evidências (aqui está o código de ética dos analistas do comportamento). Ao contrário do que muitos podem pensar, não queremos "mudar as pessoas", na verdade, modificamos o ambiente ao redor do indivíduo, para que haja suporte para a mudança de comportamento na direção que ele escolher. No entanto, nem todos os analistas do comportamento são criados iguais. Aqueles que são capazes de entender as teias comportamentais que afetam o comportamento, ou seja, como seu comportamento afeta o meu e vice-versa, estão mais bem preparados para criar programas comportamentais que enfatizam intervenções de reforço e antecedentes ao invés de procedimentos aversivos.
Conheci muitos analistas do comportamento que se orgulham de "não deixar o cliente esquivar", ou, em termos leigos, poder passar por uma birra, sem ceder. Durante meu treinamento, foi recomendado que eu fizesse exatamente isso – se o comportamento problema é mantido pela fuga e esquiva, não se deve reforçá-lo deixando o indivíduo esquivar. Agora, com anos de experiência, não é isso que recomendo aos meus supervisandos. Pense bem, quem ganha nessa situação? Você vai ter um cliente chateado, chorando, fazendo uma birra que às vezes resulta em comportamento agressivo (chutar, socar, cuspir no terapeuta), você vai ter um terapeuta que pode estar sendo agredido, cuspido, chutado, e, qualquer um que observar essa interação (pais, professores, transeuntes) vai achar que a terapia comportamental é cruel. O que me espanta é que a terapeuta orgulhosa de conseguir tolerar uma birra, para não reforçar o comportamento de fuga, não percebe, que enquanto ela está aguentando a birra o cliente não está se engajando no comportamento alternativo que eu espero que ela esteja tentando ensinar!!!
Quando os analistas do comportamento forem capazes de considerar como a intervenção proposta afetará a teia comportamental, incluindo aqueles que a estão assistindo, serão capazes de projetar intervenções sem a necessidade de recorrer à intervenção aversiva. A punição é um procedimento muito eficaz para reduzir a probabilidade de comportamento futuro, mas não é a única maneira de se conseguir uma mudança de comportamento. Assim como na física dizemos que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço, dois comportamentos não podem acontecer ao mesmo tempo. Ensine ao indivíduo um comportamento alternativo que sirva à mesma função do comportamento alvo e quanto mais o comportamento alternativo acontecer, menos o comportamento alvo irá. Aprenda a entender o seu paciente e reconheça que sua vontade tem valor. O trabalho com assentimento brilha.