Minha professora de mestrado favorita costumava dizer "Life is a concurrent operant". No início dos meus estudos, a linguagem técnica me fascinava, e descobri poesia nessa definição de vida. Na vida, muitas escolhas se nos apresentam e, como um pombo em uma câmara, devemos escolher em qual tecla bicar. Nossa escolha leva ao nosso aprendizado, e a resposta do ambiente às nossas escolhas, por sua vez, moldará nossas escolhas futuras. Como seres vivos, nossa constante escolha de comportamentos nos quais nos engajarmos, não afeta apenas nossas vidas, como afeta também a vida de outros seres vivos, em uma teia de comportamento (behavior web em inglês 😉) perfeita. Como isso pode não ser poesia?
Nesse mar de múltiplos comportamentos, como nos comprometemos com escolhas que sabemos que levarão à melhoria no longo prazo? A análise do comportamento nos ensina que o autocontrole acontece quando você faz uma escolha e se compromete com um comportamento que levará a um reforço tardio, em vez da gratificação imediata. Em essência, o autocontrole acontece quando o indivíduo se engaja em um comportamento que aumentará as chances de escolha do reforçador de maior atraso, em detrimento do reforçador imediato pequeno. Por exemplo, quando você tem um objetivo de perder peso (um reforço atrasado de grande valor) e planeja atingir esse objetivo se exercitando antes de ir para o trabalho, todas as manhãs você se depara com uma escolha: ficar na cama ou levantar-se e se exercitar. O autocontrole acontece quando à noite, antes de adormecer, você ajusta o despertador para um horário mais cedo do que está acostumado a se levantar e o coloca longe da cama, de modo que você terá que se levantar para desligar o despertador. Dessa forma, você aumentará suas chances de se levantar e se exercitar, em um momento em que ficar na cama parece um reforço maior e mais imediato.
Este último mês foi muito movimentado para mim. Entre trabalho (o de sempre e novos projetos), família visitando de fora do estado e de fora do país, e um projeto de reforma em casa, eu mal fiz as coisas que planejava fazer. Haviam muitas coisas acontecendo, e eu me sentia sobrecarregada com tantas escolhas de comportamentos para me engajar: devo ir à praia? Devo escrever outro post no blog? Devo fazer exercícios? Com tantos operantes simultâneos gritando por minha atenção, eu cuidei do que eu poderia eliminar da lista primeiro, e coisas que teriam um efeito aversivo se não fossem concluídas. Escolhi o reforço imediato e menor.
Agora um novo mês está começando, e estou tentando evitar cair na mesma armadilha do mês passado. Desta vez, estou estabelecendo um cronograma para trabalhar em coisas que atrasaram, mas são muito importantes para mim. Organizo meu ambiente para que eu tenha menos distrações desses objetivos (estou colocando dicas visuais para ir trabalhar nas metas perto de lugares onde costumo me envolver em comportamentos competitivos, como a TV e a rede), estou contando com o momento comportamental para ter certeza de que, ao começar meu dia engajado em comportamentos que levarão a esses reforços atrasados de alto valor, terei mais chances de continuar com eles. Acima de tudo, estou "fazendo o que prego", usando a análise do comportamento em mim mesma, para me ajudar a alcançar meus objetivos. Que idea inovadora, né?
E você? Você usa suas habilidades de analista do comportamento em si mesmo? Como você navega por todos os operantes simultâneos ao seu redor?