O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento que afeta uma em cada 36 pessoas nos EUA (CDC, s.d.). Pessoas autistas apresentam várias comorbidades, uma delas é o distúrbio do sono. Aproximadamente 40-80% daqueles diagnosticados com TEA sofrem de alguma forma de problema do sono (Cohen, Fulcher, Rajaratnam, Conduit, Sullivan, Hilaire, ... Lockley, 2017). Esses problemas estão positivamente correlacionados a comportamentos repetitivos e restritos, má interação social e déficits de comunicação (Hundley, Shui e Malow, 2016). Com o tempo, os problemas de sono tendem a piorar em crianças com TEA, enquanto tendem a melhorar em crianças típicas (Verhoeff, Blanken, Kocevska, Mileva-Seitz, Jaddoe, White, ... e Tiemeier, 2018). Embora haja evidências limitadas sobre a eficácia da abordagem farmacológica para tratar esses transtornos, medicamentos como melatonina, antidepressivos e antipsicóticos são frequentemente prescritos (Relia e Ekambaram, 2018).
Se as crianças não conseguem dormir, é provável que um ou ambos os pais também tenham privação de sono. Essa interrupção do sono pode contribuir para a depressão e ansiedade dos pais (Giarelli e Fisher, 2016). Tilford, Payakachat, Kuhlthau, Pyne, Kovacs, Bellando, ... e Frye (2015) relatam que os problemas de sono estão ligados a um pior estado de saúde das crianças, bem como de seus cuidadores primários. Estima-se que cerca de US$ 30 a US$ 35 bilhões de dólares por ano são gastos no tratamento de distúrbios relacionados ao sono (Wickwire, 2015). Tendo em vista que os distúrbios do sono são mais prevalentes em crianças do espectro do que em crianças neurotípicas (Cavalieri, 2016), é possível que uma grande porcentagem desses gastos seja dedicada ao tratamento de indivíduos com TEA.
Os custos anuais associados a um diagnóstico de TEA em 2011 ficaram entre US$ 11,5 bilhões e US$ 60,9 bilhões. Em média, os custos de saúde de crianças diagnosticadas com TEA foram entre 4,1-6,2 vezes maiores do que os custos de saúde de crianças com desenvolvimento típico (CDC, s.d.). De acordo com Leigh e Du (2015), até 2025 os custos associados ao tratamento do TEA devem superar os do TDAH e diabetes. É difícil julgar qual parcela desses gastos está relacionada aos distúrbios do sono, no entanto, sabe-se que os distúrbios do sono agravam outros sintomas do autismo, como déficits de comunicação e comportamentos desafiadores, que por sua vez podem levar a maior utilização de cuidados de saúde.
A eficácia de intervenções comportamentais para o tratamento de distúrbios do sono em crianças com TEA está bem documentada, especialmente quando essas intervenções envolvem treinamento dos pais. Cavalieri (2016) relatou que filhos de pais que receberam treinamento comportamental dos pais apresentaram melhora significativamente maior nos problemas de sono quando comparados àqueles que receberam treinamento psicoeducacional. Ao contabilizar os custos dos distúrbios do sono em crianças com TEA, é imperativo observar a influência do distúrbio do sono da criança em seus cuidadores, o que pode incluir perda de produtividade, ausência ao trabalho e interrupção no funcionamento familiar. Dessa forma, ao contabilizar os custos dos problemas de sono em crianças com TEA, há que se considerar os custos relacionados à perda de sono dos pais. Tilford et al. (2015) alertam que a não contabilização dos efeitos dos tratamentos na família e nos cuidadores pode levar a vieses nas razões de custo-efetividade. Sua estimativa de custo-efetividade para intervenções comportamentais para distúrbios do sono em crianças do espectro foi de 0,03 anos de vida ajustados pela qualidade (QALY), e dobra quando se leva em conta os efeitos sobre a família e os cuidadores.
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Referências:
Cavalieiri, A. (2016). Sleep Issues in Children with Autism Spectrum Disorder. Pediatric Nursing, (6), 169-188.
Center for disease control and Prevention (2023.) (a) Autism Spectrum Disorder (ASD): Data and Statistics. Retrieved from: https://www.cdc.gov/ncbddd/autism/data.html
Cohen, S., Fulcher, B. D., Rajaratnam, S. M. W., Conduit, R., Sullivan, J. P., Hilaire, M. A. S., … Lockley, S. W. (2017). Behaviorally-determined sleep phenotypes are robustly associated with adaptive functioning in individuals with low functioning autism. Scientific Reports, 7(1), 14228. https://doi.org/10.1038/s41598-017-14611-6
Giarelli, E. (2016) Chapter 1- Integrating knowledge of autism with comprehensive healthcare. In Giarelli, E. & Fisher, K. (Ed.), Integrated Healthcare for people with autism spectrum disorder. Springfield, IL: Charles C Thomas Publisher, Ltd.
Hundley, R., Shui, A., & Malow, B. (2016). Relationship Between Subtypes of Restricted and Repetitive Behaviors and Sleep Disturbance in Autism Spectrum Disorder. Journal of Autism & Developmental Disorders, 46(11), 3448–3457. https://doi.org/10.1007/s10803-016-2884-4
Leigh, J., & Du, J. (2015). Brief Report: Forecasting the Economic Burden of Autism in 2015 and 2025 in the United States. Journal Of Autism & Developmental Disorders, 45(12), 4135-4139. doi:10.1007/s10803-015-2521-7
Relia, S. & Ekambaram, V. (2018). Pharmacological Approach to Sleep Disturbances in Autism Spectrum Disorders with Psychiatric Comorbidities: A Literature Review. Medical Sciences, (4), 95. https://doi.org/10.3390/medsci...
Tilford, J., Payakachat, N., Kuhlthau, K., Pyne, J., Kovacs, E., Bellando, J., … Frye, R. (2015). Treatment for Sleep Problems in Children with Autism and Caregiver Spillover Effects. Journal of Autism & Developmental Disorders, 45(11), 3613–3623. https://doi.org/10.1007/s10803...
Verhoeff, M. E., Blanken, L. M. E., Kocevska, D., Mileva-Seitz, V. R., Jaddoe, V. W. V., White, T., … Tiemeier, H. (2018). The bidirectional association between sleep problems and autism spectrum disorder: a population-based cohort study. Molecular Autism, 9, 8. https://doi.org/10.1186/s13229...
Wickwire, E. M. (2015). Financial Costs of Insomnia. Sleep Review, 16(1), 24–25. Retrieved from http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=heh&AN=100385238&site=eds-live